terça-feira, 29 de junho de 2010

Igualdade das ruas

A multidão, enquanto eu descia a rua apinhada de gente, subia em sentido contrário, me encurralando, esbarrando grosseiramente nas minhas roupas, na minha pesada mochila, pisando nos meus pés.
Debaixo daquele sol, eu avistava de longe o carrinho do uniformizado sorveteiro. Confundi-o com o homem que entrava apressadamente no açougue vestido igualmente de branco. Tirei uma bala do bolso e uma conta vencida pra pagar.
Era uma segunda-feira morna. Enquanto eu descia, as pessoas riam subindo pela calçada, e notei que algo que viam em mim provocava-lhes o riso. Olhei para baixo e fechei o zíper apressadamente. Lembrei-me de ter dito à Maria para guardar um pedaço de bolo.
Arrependi-me por um breve instante de não ter escolhido a rua paralela à esquerda da ladeira transbordante de pessoas. Pra que tanta perna, meu Deus! O hospital próximo fazia-as amontoarem-se junto à parada de ônibus, local de embarque para destinos de norte a sul da cidade.
O homem por quem passara, há poucos minutos, se esforçava, agora, para manter-se equilibrado junto a uma parede. Cheirava a álcool, suor e cigarro, o qual tentava manter entre os dedos da mão direita. Seu corpo pretendia sentar, mas ele forçava-se em pé. Afligiu-me ver aquele homem debaixo do sol ardente: era como ver cozinhar aquela criatura.
De repente, um esbarrão lança-lhe no chão. Cai de quatro feito um cachorro. Pequeno demais para ser visto, não merecera pedido de desculpas do homem que o jogara na calçada.
Agora, o homem que, antes, mal conseguia se equilibrar em pé, não conseguia levantar-se da posição em que estava. O cigarro escapou dos dedos e saiu rolando pela calçada. Tentou tirar outro do maço que estava no bolso da camisa encardida, mas o pequeno pacote caiu, espalhando todos os cigarros no chão.
Cortei pela esquina da padaria que se avultou à minha frente. O cheiro de pão fresco entrou pelas minhas narinas, recebendo a breve resposta do estômago: fome.
Mordisquei um pedaço do pão, limpei a boca e pensei no pobre homem maltrapilho que buscava o próprio equilíbrio.
De repente, o esbarrão lança-me no chão: caí de joelhos, cheirando a álcool, cigarro e suor.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O caminho de volta...

"Preciso voltar! Precisco voltar!" - dizia freneticamente uma voz. Da consciência, talvez.

Êxtase e Angústia... Afinal, isso é o seu ópio.

Por isso, ela vai voltar em breve...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Novo percurso

A chuva fina tornava os passos inseguros. A calçada já destruída, cheia de limo, fazia as pernas vacilarem na descida da rua lateralmente localizada ao hospital.
Estação Clínicas do metrô: atravessou o longo corredor que conduzia à saída da estação enquanto decidia se passaria no banco antes ou depois do expediente no trabalho. Decidiu mudar o percurso para o caminho que não tinha bancos. Apressou os passos, seguindo pela rua à esquerda e atrás do grande hospital das Clínicas. Pensou, ainda, em tomar a direita e adentrar o hospital, passar no médico e queixar-se da velha otite para ganhar um dia ou dois. Decidiu-se pelo caminho à esquerda e atrás do hospital.
Disputou um lugar na calçada cheia de enfermos e seguiu para o trabalho. Notou que os sapatos estavam bastante molhados - “malditos sapatos de pano!”. Desejou tirá-los e esticar as pernas na poltrona da sala.
Enfim, chegou à ruazinha mal movimentada. O vai e vem de funcionários, por um instante, confundiu-a: grandes manchas brancas que subiam a rua na sua direção. Despertou e conseguiu desvencilhar-se de um carro que, passando pela sarjeta, jogou água por todos os lados. "Filho da puta!" - pensou, carregando a censura da mãe por onde quer que fosse.
Descendo a rua, notou que o caminho era muito mais longo que o caminho habitualmente percorrido. Lembrou-se dos belos olhos azuis de Luis e da pele branca, dos dentes e do sorriso. E sorriu. Ao passar por uma grande curva, percebeu que estava bem atrás do hospital.
Foi surpreendida por um homem que, vestido de branco, apresentava-se como mais uma mancha branca no canto do olho direito. Seriam as pessoas, também os médicos, somente manchas, de várias cores? O homem passou e diminuiu os passos enquanto ela andava atrás dele.
Conseguiu ultrapassá-lo e saiu, subitamente, em frente a um bar, na movimentada Oscar Freire. Abandonara a calmaria daquela espécie de alameda próxima ao Instituto Médico Legal - onde provavelmente estariam alguns dos passageiros ainda não identificados daquele acidente aéreo - para reencontrar-se diante de tantos carros e de tanta gente que bebia no bar no meio da semana?
Atravessou a rua um pouco atordoada, desvencilhando-se novamente de um carro, que acabaria de molhar o sapato e também as roupas, e voltou para aquela espécie de alameda. Desse lado, porém, encontra outro tipo de calmaria: pequenas lojas com estilo convidativo e acolhedor se apresentam: uma sapataria, uma loja de roupas de fabricação própria, uma pequena loja de produtos naturais.
Sorriu novamente. Lembrar-se dele era especialmente agradável num dia como aquele. Ele era um homem cuja lembrança fazia suspirarem as mais incrédulas.
Parou diante de uma padaria numa esquina e pensou se compraria pães. Lembrou-se da dieta e desistiu da ideia. Pensou nos trabalhos que a aguardavam e sentiu-se triste.
Atravessou mais uma rua, dessa vez chegando já ao trabalho. Ao avistar o café decidiu entrar para comprar algo e, finalmente, decidiu que contaria tudo a ele.

Acordou no sofá, com as pernas esticadas na poltrona enquanto chovia fortemente lá fora e a rua à esquerda do hospital tinha mudado de lugar.

sábado, 6 de junho de 2009

Zwei

Uma ocasião, um lugar.

Dois caminhos que se cruzam sem se encontrarem.
Duas vidas que se encontram sem se completarem.

Velhos novos conhecidos perdem-se no desencontro e se reencontram em outros lugares.
Em outras pessoas.

Presença virtual, desejos impacientes.
A alma se transporta e transcende o corpo, deixando-o só, ali, incerto e imprudente.

Afago que incendeia e repele.
Olhares que não se buscam, amores que desencantam.

Sons de automóveis e saltos de sapato e sirenes e portas que batem são abafados pela ensurdecedora solidão.

Só um homem e uma mulher só.

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Ao som de: Dull flame of desire - Bjork com Antony Hegarty (http://www.youtube.com/watch?v=BWV4N-ZcDJg)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A-ha!

Post extra!
Encontrei no blog do Vinicius (Canto em Silêncio) e recomendo este teste:



http://www.inspiira.org/

Eu sou do tipo ENTP: Extrovertidos (E), Intuitivos (I), Pensadores (T) e Perceptivos (P). O site oferece uma explicação detalhada dos tipos.
O resultado pode assustar ou encantar. Como diz o ditado: "quem não deve, não teme"...

Aufwiedersehen!